O presidente do Conselho Europeu, António Costa, considerou que a imigração é um "bode expiatório" utilizado para justificar o aumento da extrema-direita em Portugal e no resto da Europa e que "os partidos andaram mais focados noutros temas", deixando para trás as "questões centrais das desigualdades sociais".
Em entrevista ao podcast 'Política Com ', da Antena 1, o ex-primeiro-ministro português considerou que o aumento da extrema-direita "tem a ver com a sensação generalizada de que as desigualdades têm vindo a aumentar" e com o facto de haver "largas camadas da nossa população que estão bloqueadas nas suas perspectivas em relação ao futuro".
Apesar de sublinhar que "as economias", "os rendimentos médios" e, "por vezes, até os salários mínimos" dos países europeus "têm crescido", António Costa reconheceu que "largas faixas da população europeia não sentem que têm perspectivas de desenvolvimento futuro das suas vidas ou dos seus filhos, comparativamente às expectativas que tinham e àquilo que aconteceu no ado".
"Essa questão, do meu ponto de vista, tem causas objetivas e outras têm a ver com alguma conjuntura. Nós vivemos dois anos duríssimos com a Covid, que criou um problema muito difícil no conjunto das sociedades. Saímos da Covid, onde recuperámos economicamente, mas fomos atingidos por um pico de inflação que as nossas vidas já não conheciam", explicou.
Para Costa, "a soma disto tudo gerou um mal estar muito grande" e, nos últimos anos, "os partidos andaram mais focados noutros temas do que nestas questões centrais das desigualdades sociais".
"As pessoas sentem alguma carência de representação, acho que esta é a razão fundamental. E depois é fácil tentar encontrar catalisadores invisíveis, a imigração é o mais evidente, apesar de não ter a ver com nenhuma destas causas profundas… Mas é fácil encontrar um bode expiatório", disse.
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