Memorial às Pessoas Escravizadas vai ser instalado na Ribeira das Naus

O Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas vai ser instalado na zona da Ribeira das Naus, em Lisboa, encontrando-se "em fase de adaptação do projeto", disse fonte oficial da Câmara Municipal de Lisboa à agência Lusa.

Ribeira das Naus

© CMLisboa

Lusa
12/06/2025 11:56 ‧ ontem por Lusa

País

Lisboa

A nova localização do projeto nascido no âmbito das propostas da cidade para o Orçamento Participativo autárquico de 2017/2018 foi avançada segunda-feira pelo jornal Público, indicando que o artista Kiluanji Kia Henda está a redesenhar a instalação escultórica.

 

ado pela agência Lusa, o Departamento de Comunicação da Câmara Municipal de Lisboa (CML) indicou, por 'email', que "a Ribeira das Naus está definida como a nova localização para o memorial", e que "o processo se encontra em fase de adaptação do projeto à nova localização".

Questionada sobre a data estimada para o início da instalação do Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas, a CML apontou que "ainda não é possível, nesta fase, avançar com prazos concretos para a execução" do projeto da Associação de Afrodescendentes (Djass), que o candidatou ao Orçamento Participativo da autarquia em 2017.

"Trata-se de um trabalho técnico e colaborativo que está a ser conduzido com rigor e responsabilidade para garantir que a intervenção respeita os critérios patrimoniais, urbanísticos e simbólicos exigidos pelo contexto envolvente", justifica a CML na resposta à Lusa.

A localização na Ribeira das Naus -- uma zona história de Lisboa por ter sido essencial na construção e manutenção de navios, especialmente durante o período dos Descobrimentos portugueses -- já tinha sido anteriormente avaliada como opção para o memorial, mas afastada por o terreno pertencer à Marinha.

No entanto, a CML explica que a nova área para o memorial "localiza-se na Ribeira das Naus fora da área pertencente ao Estado, em território municipal", e "os dois espaços são confinantes".

O novo local foi aprovado, "de acordo com os necessários pareceres e salvaguardando que se trata de uma zona especial de proteção", do património cultural, o que significa que "o seu desenho e implantação se encontram sujeitos a determinados condicionantes, designadamente o parecer da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo".

Na resposta à Lusa, a autarquia refere quais são esses condicionantes: "Não deverá ultraar os limites nem ocupar a área Classificada do Conjunto de Interesse Público Lisboa Pombalina; não poderá configurar uma barreira visual que impeça a visualização do Conjunto da Lisboa Pombalina a partir da Avenida da Ribeira das Naus, designadamente dos edifícios dos ministérios situados a tardoz da presente localização. Igualmente na direção oposta (Ministérios - Ribeira das Naus) deverá ser evitada a criação de impedimentos significativos que possam prejudicar uma boa visualização do rio".

ada pela Lusa, a presidente da Djass disse ter recebido a indicação da CML sobre a aprovação do novo local há cerca de um mês, e que o artista Kiluanji Kia Henda "vai ter de adaptar o projeto porque a área é mais pequena", mas prefere prestar declarações adicionais "quando a autarquia fornecer mais pormenores".

Para escolher a localização do monumento, a CML e a Djass têm vindo a apresentar propostas em reuniões consecutivas, nomeadamente o Campo das Cebolas, junto ao Terreiro do Paço, que acabaram por ser consideradas "não adequadas" na sequência de pareceres negativos da então Direção-Geral do Património Cultural e da EMEL, proprietária do estacionamento subterrâneo que ali viria a ser construído.

Depois de ter sido aprovado pela CML, a Djass lançou um concurso para a execução que selecionou o artista angolano Kiluanji Kia Henda, cujo projeto escultórico foi aprovado pela autarquia em 2019.

A Lusa tentou ar sem êxito o artista sobre o projeto que chegou a iniciar em 2020, propondo um monumento de homenagem com um conjunto escultórico composto por centenas de canas-de-açúcar em alumínio preto com quatro metros de altura e um pequeno anfiteatro, intitulando-o "Plantação --- Prosperidade e Pesadelo".

Nesse ano, em entrevista à Lusa, Kiluanji Kia Henda explicou que idealizou uma plantação de canas-de-açúcar ladeada por bancos de betão em círculo, onde os visitantes pudessem sentar-se "para contemplar e refletir [sobre o significado do memorial], e também para apresentar eventos culturais" na cidade.

Para o artista, o memorial representa, simbolicamente "uma plantação de luto pelas vítimas da escravatura, sendo metálica, portanto estéril, remete para um ado trágico, mas também para um futuro próspero".

As esculturas negras -- explicou, na altura - remetem para a imagem de uma plantação queimada, "em luto", lembrança das revoltas levadas a cabo pelas vítimas da escravatura, que envolviam a queima dos campos, num ato de desafio ao poder que sustentava a escravatura.

Há 500 anos, a produção de cana-de-açúcar - que chegou a ser chamada "ouro branco" - esteve no centro de uma importante atividade económica devido ao apetite europeu por aquela mercadoria luxuosa originária do sul da Ásia que os Descobrimentos consagraram no mercado global da época.

Plantações, companhias, entrepostos, refinarias, depósitos e lojas foram criados em vários pontos do mundo, numa rede alimentada por rotas comerciais ativas entre os séculos XVI e XIX, baseados no trabalho de escravos, que se generalizou no império português, e só viria a ser abolido no início do século XIX.

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