No entanto, ainda resta muito por fazer no quadro de uma transição que se estima durar pelo menos cinco anos.
A 08 de dezembro de 2024, após quase 14 anos de guerra civil, uma ofensiva relâmpago de grupos islamitas e da oposição surpreendeu o mundo ao pôr fim, em poucas semanas, a mais de meio século de domínio da família al-Assad, que governava o país desde Hafez al-Assad e, desde 2000, o seu filho Bashar.
Eis alguns pontos-chave para compreender a evolução do país sob a nova liderança, os progressos alcançados e os desafios ainda em aberto.
Recuperação económica
Com 90% da população a viver na pobreza, segundo dados das Nações Unidas, e com um processo de reconstrução pela frente que poderá custar até 400.000 milhões de dólares (cerca de 350.000 milhões de euro), o maior desafio da Síria é relançar a economia e melhorar as duras condições de vida da população.
As sanções internacionais impostas durante o antigo regime representavam um forte obstáculo, mas os Estados Unidos e a União Europeia (UE) anunciaram em maio ado o levantamento das respetivas medidas económicas, seguindo o exemplo de outros países.
Apesar de estas decisões abrirem caminho ao investimento e facilitarem a reativação do sistema financeiro, os objetivos dependem também de reformas internas profundas, entre as quais as autoridades destacam o combate à corrupção e a simplificação da burocracia.
Restabelecimento de relações
O Governo está ciente de que a Síria não conseguirá recuperar nem reconstruir-se sem o apoio da comunidade internacional, que isolou durante anos o regime de al-Assad devido à repressão brutal das revoltas de 2011 e a outras violações dos direitos humanos, atualmente sob investigação.
Desde os primeiros dias após a queda de al-Assad, líderes de todo o mundo visitaram Damasco ou receberam delegações sírias de alto nível, num voto gradual de confiança nas novas autoridades lideradas por Ahmed al-Sharaa, fundador do antigo ramo sírio da rede terrorista Al-Qaeda, um grupo radical islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
Particularmente relevante será o papel dos ricos países do Golfo, que já deram alguns os iniciais para apoiar economicamente a Síria, tendo sido os primeiros a aproveitar o levantamento de sanções para acordos, como o energético, com um consórcio liderado pela empresa qatari UCC Holding, avaliado em 7.000 milhões de dólares (6.140 milhões de euros).
A Turquia, por seu lado, mantém-se como o principal aliado estratégico do novo Governo, depois de ter sido uma das principais apoiantes da oposição síria durante o regime de al-Assad.
Uma democracia real
Após décadas de autoritarismo mal disfarçado, a nova Síria enfrenta também a necessidade de estabelecer uma democracia sólida e um sistema político que assegure uma verdadeira inclusão das diversas comunidades do país.
Em fevereiro, foi realizada uma aguardada conferência nacional para traçar as bases da transição, embora tenha sido criticada pela exclusão de certos setores.
Em março, foi finalmente nomeado um Governo de longo prazo, substituindo o executivo interino improvisado após a queda de al-Assad.
O atual Governo mantém alguns 'cargos-chave' nas mãos de figuras ligadas à istração paralela que controlava o último bastião opositor da Síria, pertencente à coligação islamista Organismo de Libertação do Levante, de al-Sharaa, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Asad al Shaibani.
Entre as tarefas políticas pendentes estão a promulgação de uma nova Constituição e a criação de um Parlamento que substitua o dissolvido no início do ano.
Minorias religiosas
Sob as novas autoridades, ligadas à maioria muçulmana sunita, a Síria registou episódios de violência sectária, como o que, em março, causou centenas de mortos entre a minoria alauita, à qual pertencia al-Assad, ou o que, em maio, fez dezenas de vítimas entre os drusos.
Quanto aos curdos sírios, que lideram uma autoproclamada istração autónoma no nordeste do país, foi alcançado em março um acordo com o Governo central para ultraar divisões e trabalhar na sua integração no novo Estado sírio, ainda com muito por concretizar.
Enquanto Damasco procura entendimentos com as várias minorias e Israel tenta semear a discórdia entre elas, a comunidade internacional manifesta preocupação com o futuro do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), ainda ativo no vasto deserto sírio e, há muito, transformado de aliado em inimigo de al-Sharaa.
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